Quando o cotidiano se transforma em coreografia divina
Introdução poética e otimizada
Nem sempre o sagrado chega com incenso, nem sempre a espiritualidade nos encontra de olhos fechados. Às vezes, ela escorrega pelos corredores de um supermercado comum, no meio de carrinhos rangendo, promoções em voz alta e filas que não andam.
Naquela manhã, eu só queria comprar pão.
Mas acabei encontrando um instante tão puro, tão inesperado, que o coração inteiro dançou.
Sem música.
Sem aviso.
Com graça.
Entre prateleiras e milagres invisíveis
Era uma terça-feira apressada.
As luzes frias do supermercado pareciam iluminar o cansaço das pessoas. Carrinhos empilhados, crianças impacientes, adultos distraídos. Eu caminhava, como tantos outros, guiado pela lista mental de compras.
Foi quando vi o casal.
Eles já deviam ter seus setenta e tantos. Ele empurrava o carrinho com uma gentileza antiga. Ela o guiava com o dedo apontando ingredientes e um sorriso que parecia saber segredos.
De repente, no corredor dos temperos, ele parou.
Colocou a mão nas costas dela e sussurrou algo.
Ela riu.
E então ele a girou levemente, como se o chão fosse palco e os olhos dela, música.
Ela acompanhou o movimento, com leveza ensaiada pelo amor de anos.
Rodaram.
Por três segundos.
Talvez menos.
Mas aquilo foi dança.
E foi tudo.
“O mundo ainda dança, mesmo quando ninguém percebe.”
Enquanto todos ao redor passavam correndo ou reclamando do preço do arroz, aquela pequena coreografia sem plateia me lembrou que o sagrado não grita.
Ele sussurra.
Às vezes, com um gesto terno entre duas pessoas que já se escolheram mil vezes.
Às vezes, no supermercado, entre latas e embalagens, como se dissesse:
“A beleza ainda está aqui.
Basta prestar atenção.”
O que realmente estamos comprando?
Naquela manhã, eu saí do supermercado com o pão.
Mas o que realmente levei para casa foi a lembrança de que a vida dança.
Mesmo em silêncio.
Mesmo no meio da pressa.
Mesmo quando esquecemos a música.
E fiquei pensando:
Quantos outros momentos dançantes eu já deixei passar?
Quantos gestos pequenos carrego comigo e não percebo a sua coreografia?
Prática simbólica:
“Dançar em silêncio com a vida”
Hoje, tente notar a música silenciosa dos seus movimentos.
Pode ser no lavar da louça, no abrir de uma janela, ou no olhar que troca com alguém querido.
Não precisa girar.
Basta sentir o compasso.
E sorrir, mesmo que ninguém esteja vendo.