“Há dores que não nos prendem — nos atravessam.”
A fresta por onde entra a luz
Nem toda dor vem para ferir.
Algumas vêm para abrir.
Abrir fendas, sim. Mas também abrir frestas.
E pela fresta entra luz.
Às vezes suave, às vezes ofuscante — mas quase sempre reveladora.
Há dores que chegam como se fossem fim.
E quando nos damos conta, já estamos em travessia.
O mistério da dor que transforma
Você já sentiu aquela dor que, mesmo machucando, parecia conter uma verdade oculta?
É porque certas dores não são interrupções da vida — são convites secretos a um novo modo de viver.
Elas rasgam certezas, arrancam disfarces, desmoronam defesas.
E nesse caos, abrem espaço.
E no espaço, nasce sentido.
Um sentido novo. Mais fundo. Mais seu.
Pausa contemplativa
Feche os olhos e respire.
Pense em uma dor que você atravessou — e não foi a mesma depois.
Ela te feriu… ou te revelou?
A porta invisível no campo escuro
A dor, quando acolhida, é como uma porta semiaberta no escuro.
No início, tudo é silêncio, sombra e medo.
Mas aos poucos, um facho de luz atravessa a fresta.
Você ainda não sabe para onde leva, mas sente que precisa passar por ali.
Caminhar em direção ao que assusta — é isso que a dor pede.
E quem atende esse chamado, descobre que por trás da dor morava liberdade.
Travessia silenciosa
A dor é pedagoga do espírito.
Não ensina com explicações.
Ensina com perdas, com silêncios, com cansaços e recomeços.
E o que ela ensina?
A desapegar. A sentir. A recomeçar com menos. A ouvir mais.
Ensina que a alma não é frágil.
Ela é profunda.
E que só a profundidade suporta certos vazios.
Prática simbólica: nomear a travessia
Hoje, escreva em um papel o nome de uma dor que você atravessou.
Abaixo, escreva:
“Você me abriu. E por isso, agradeço.”
Dobre o papel e coloque-o sob uma vela apagada.
Acenda a vela.
Observe.
Respire.
Você honrou sua travessia.
Finalização poética
Nem toda dor nos aprisiona.
Algumas nos ensinam a atravessar a noite.
E a reconhecer, no fundo do escuro,
uma porta entreaberta —
com luz suficiente para seguir.