De vez em quando, a gente queima o arroz. Manda mensagem errada. Escolhe a rota que parece mais curta — mas que termina em beco sem saída. A gente tenta acertar, mas erra. Às vezes erra feio. E mesmo assim, tudo continua. Porque a vida, mesmo tropeçada, segue viva.
Tem dias que o coração ilude. Outros, que a cabeça pesa mais do que deveria. E há manhãs em que o espelho devolve um olhar que a gente quase não reconhece: “como foi que cheguei até aqui?”
Mas é nesse aqui — meio amassado, cheio de vírgulas interrompidas e frases riscadas — que mora a beleza escondida.
É no tropeço que nasce o passo mais firme.
É no erro que mora o afeto pela tentativa.
É no fim da linha que às vezes a vida traça uma nova direção.
A gente se cobra tanto. E esquece que o simples fato de continuar, de levantar mais uma vez, já é um milagre. Não aquele milagre espetacular que rasga o céu, mas o milagre cotidiano de não desistir, de tentar de novo com as mãos cheias de cicatrizes — e ainda assim com esperança.
O Sagrado não exige perfeição. Ele se revela justamente onde ninguém mais olha: no momento em que a gente aceita que está tudo meio bagunçado, mas mesmo assim continua. Ele habita a coragem tímida dos que recomeçam, o silêncio dos que aprendem com o tropeço, o coração dos que perdoam a si mesmos.
Talvez você tenha deixado coisas pelo caminho. Sonhos, promessas, versões suas que já não cabem mais. Talvez tenha se culpado por não ter conseguido manter acesa a luz que um dia brilhou tão forte. Mas hoje — agora — ainda é tempo. Tempo de entender que tudo o que te trouxe até aqui serviu. Tudo foi escola. Até o que doeu.
E esse “aqui”, por mais imperfeito que pareça, é um excelente lugar para recomeçar.