A sacola que ele sempre carregava

Ninguém sabia o que havia dentro. Só sabiam que ele nunca saía sem ela.
Ele passava todos os dias pela praça, sempre no mesmo horário, com passos lentos e uma sacola de pano azul-marinho pendurada no ombro. Era daquelas reutilizáveis de supermercado, mas já gasta pelo tempo, com costuras desfiadas e um remendo bege no fundo.
Alguns diziam que ali ele levava livros. Outros juravam que era pão velho para os pombos.
Mas ele nunca abriu a sacola para ninguém.
Só carregava.
Havia algo naquele gesto que chamava atenção: não era peso, era propósito.
Não parecia obrigação, mas uma missão silenciosa.
Um dia, ele não apareceu.
E no outro, também não.
A praça sentiu a ausência antes mesmo que alguém percebesse.
Foi só na manhã de domingo que um garoto curioso encontrou a sacola esquecida no banco onde ele costumava se sentar. Dentro, havia apenas três coisas:
1. Um caderno velho com anotações diárias — frases curtas como “Hoje vi uma borboleta pousar no boné de um menino” ou “O vento da tarde me trouxe o cheiro da infância”.
2. Um pacote de balas de hortelã.
3. E um envelope com uma frase escrita à mão:
“Se você encontrou isso, por favor, continue olhando o mundo com gentileza.”
“Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.”
— Gálatas 6:2
Ele carregava o que ninguém mais carregava: o olhar sagrado sobre as coisas simples.
A sacola não era um peso.
Era uma missão: recolher beleza onde ninguém mais via.
E deixar sementes de ternura onde o mundo endureceu.
Naquela praça, nada mudou.
Mas desde então, quem passa por ali… olha diferente.
Talvez esperando encontrar outro homem com outra sacola.
Ou talvez carregando sua própria, agora.

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