O Imã Invisível das Palavras

Você já reparou como tem gente que parece caminhar sob uma nuvem cinzenta, enquanto outras pessoas brilham até mesmo nos dias de tempestade? Não é sobre sorte. Tampouco sobre destino. É sobre o que cada um carrega na boca e no coração.
Outro dia, sentado num café qualquer, ouvi uma senhora dizer para a amiga:
— Nada dá certo na minha vida. Tudo o que tento, desanda.
A frase saiu como quem abre a porta para a má sorte entrar, tirar os sapatos e se acomodar no sofá.
Na mesa ao lado, um senhor de terno gasto mexia no celular, enquanto repetia em voz baixa:
— Obrigado, obrigado, obrigado.
Era curioso: dois mundos tão próximos, mas vibrando em frequências tão diferentes. Um deles, sem saber, criava espinhos no próprio caminho. O outro, talvez por insistência ou fé, plantava flores invisíveis a cada palavra.
A boca fala. O universo escuta.
Há quem ache que palavras são apenas sons moldados por intenções. Mas palavras são sementes. Algumas florescem. Outras, ferem. E algumas voltam — em forma de eco, de consequência, de lição.
Reclamar da vida é como lançar veneno no próprio campo. Aos poucos, o solo seca, os frutos murcham, a esperança se cala. Quem vive resmungando, ainda que com razão, vive também regando as próprias sombras.
Já o ato de agradecer — mesmo que pouco se tenha, mesmo que doa — é como acender uma vela dentro do peito. E essa pequena chama muda tudo.
A graça que desce
Conta-se, poeticamente, que a palavra “agradecer” vem de “A Graça Descer”. Pode não ser etimologia oficial, mas é sabedoria profunda. Porque toda vez que a gente agradece de verdade, sem fazer conta, sem esperar retorno imediato, algo realmente desce: paz, aceitação, uma espécie de bênção suave que não se vê, mas se sente.
Gratidão é a prece dos que compreenderam que a vida é um presente, ainda que embalada em desafios.
O poder do foco
A mente é uma lente. Aquilo em que focamos, cresce. Se miramos o que falta, ficamos cegos para o que já temos. Se só vemos o problema, deixamos de notar as possibilidades.
Não é fingir que está tudo bem quando não está. É reconhecer que, mesmo na dor, ainda há algo a ser celebrado: o fôlego da manhã, o olhar de alguém, a água limpa no copo, o silêncio que nos escuta, o corpo que ainda se move.
Usar o poder mental e espiritual a favor dos nossos objetivos começa por aí: por perceber o bem que já está presente e valorizá-lo. E isso muda a frequência da alma. Gratidão não é método de autoajuda, é uma estratégia espiritual.
O que você está chamando para si?
Imagine suas palavras como imãs. A cada frase que sai da sua boca, você atrai algo semelhante. Quem diz “minha vida é um caos”, está pedindo mais desordem. Quem diz “eu não tenho sorte”, afasta o que poderia ter chegado. Quem vive dizendo “nada presta”, fecha a porta do coração até para as pequenas alegrias.
Por outro lado, quem aprende a dizer “obrigado” — mesmo sem motivo aparente — abre portais. Cria espaço. Torna-se um campo fértil para o que é bom.
Não se trata de negar a dor. Trata-se de não fazer dela a única narrativa.
O exercício diário da gratidão
Gratidão é músculo. E como todo músculo, precisa ser exercitado.
A prática pode ser simples:
• Antes de dormir, lembrar de três coisas boas que aconteceram no dia.
• Pela manhã, agradecer por estar vivo.
• Ao longo do dia, identificar pequenos milagres — o café quente, o sol entrando pela janela, o reencontro com alguém, a gentileza de um estranho.
Essa prática transforma o olhar. E quando o olhar muda, tudo muda.
Uma história dentro da história
Lembro de uma mulher chamada D. Elza. Costureira, viúva, morava sozinha numa casa modesta. Quando alguém perguntava como ela estava, ela respondia:
— Agradecida.
Mesmo quando a vida apertava, mesmo quando o dinheiro faltava, mesmo quando a solidão doía.
— Agradecida — dizia, com os olhos úmidos e a alma firme.
E era impressionante: sempre havia quem batesse em sua porta com um bolo, um tecido bonito, uma ajuda inesperada. Ela parecia ter um pacto silencioso com o universo: sua gratidão puxava os milagres como um ímã.
O que você tem dito ao mundo?
Pense agora: quais palavras você tem oferecido à vida?
Você tem dito mais “reclamei” ou “agradeci”?
Mais “não dá” ou “vamos ver”?
Mais “tudo difícil” ou “vou conseguir”?
As palavras criam atmosferas. E as atmosferas criam realidades.
Por isso, não espere grandes conquistas para começar a agradecer. Agradeça agora. Pelo que ainda tem. Pelo que está por vir. Pela chance de tentar mais uma vez. Pelo ar que entra e sai dos pulmões. Pela presença de alguém. Pelo silêncio que protege.
Porque a vida — mesmo com suas durezas — ainda é um presente. E quem a trata como tal, recebe outro de volta: a leveza.
Moral da história
Evite ser aquela pessoa que a vida escuta com tristeza. Seja aquele cuja voz faz a vida sorrir.
Afinal, quando você expressa gratidão, você emana uma luz que atravessa as nuvens. Você se torna imã do bem. E o bem, como a graça, sempre encontra um jeito de descer.

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